29.8.08

Shortbus

Shortbus, de John Cameron Mitchell, EUA, 2006 - DVD

Nos últimos anos temos visto uma boa quantidade de filmes não-pornográficos apropriarem-se do sexo explícito em suas narrativas. Filmes como Romance, Intimidade, Lúcia e o Sexo, Ken Park, Brown Bunny, 9 Canções, 29 Palms e Anjos Exterminadores, entre outros. A esse já extenso grupo, soma-se agora Shortbus, de John Cameron Mitchell, diretor de Hedwig: Rock, Amor e Traição.
É sobre como o diretor retrata o sexo e a cidade de Nova York pós-11 de Setembro que trato no texto recém-publicado na Cinética.
Leia a crítica do filme em:

25.8.08

Mostra Vivendo e Morrendo em SP

De 02 a 07 de setembro acontece no Centro Cultural São Paulo a mostra Vivendo e Morrendo em São Paulo, com produção e curadoria minha e de Cléber Eduardo. A mostra exibirá 18 produções em torno da relação conflituosa entre seus personagens e a cidade de São Paulo e terá debate com teóricos e realizadores.
A mostra parte de um olhar específico. O que mobiliza, em ficções e documentários, os dramas paulistanos? Quais as principais razões de sofrimento ou de conflito dos personagens na cidade? E em quais medidas a experiência específica na metrópole motiva essas feridas emocionais?
Essas questões serão colocadas por meio da exibição de 18 longas-metragens e da realização de um debate, que acontecerá no dia 04/09, às 14h, com a presença dos cineastas Ricardo Elias e Guilherme de Almeida Prado, do professor e pesquisador Rubens Machado Jr (da ECA-USP) e mediação de Cléber Eduardo.
A seleção não foi pautada pelo cânone, mas por um recorte no enfoque, levando-se em conta, sempre, a disponibilidade de cópias e a viabilidade dos direitos de exibição. Nos enredos presentes na programação, há procuras pelo par ideal na selva de rostos e imagens da metrópole, a perda desse par ou da esperança de encontrá-lo e os dissabores gerados por uma circunstância social, diante dos quais se resiste ou se tomba.
Pode-se afirmar em linhas gerais que, vivendo ou morrendo em São Paulo, os personagens primam pela “ausência” (pela perda ou pela falta). Pode ser ausência de casa, de afeto, de liberdade, de expectativas e de confiança. Não deixa de ser um olhar paradoxal para um espaço urbano marcado pelo acúmulo.
São filmes de 1968 a 2008, dirigidos por alguns dos mais expressivos cineastas do universo paulistano, alguns de fora da cidade, mas marcados sempre em seus percursos pelo olhar para o ambiente urbano da capital, como Rogério Sganzerla, João Batista de Andrade, Denoy de Oliveira, Suzana Amaral e Guilherme de Almeida Prado, surgidos entre os anos 60 e 80, que recebem o reforço de uma nova geração de diretores com olhares voltados para São Paulo, como Lina Chamie, Laís Bodansky e Ricardo Elias.
Podemos ver o ambiente das ruas, dos imigrantes nordestinos recém chegados, de um taxista, de um marginal, de uma jovem prostituta, de um jornalista policial, de um motoboy, de um rapaz de volta à cidade, de sujeitos de classe média, de presidiários, de jogadores, enfim, de um grupo multifacetado de personagens na cidade. A geografia dramatizada pelos 18 filmes transita da periferia aos Jardins, passando pelo metrô, pelo trem, por um presídio e por um estádio.
É notável a freqüência e proximidade da morte, presente de formas menos ou mais evidentes na maioria dos filmes de narrativa paulistana. Pode ser a morte no trânsito, como A Hora da Estrela, de Susana Amaral; A Via Láctea, de Lina Chamie; e Os 12 Trabalhos, de Ricardo Elias; ou por medo da perda, como Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado. Pode ser por contingências sociais, como O Baiano Fantasma, de Denoy de Oliveira; O Homem que Virou Suco e A Próxima Vítima, de João Batista de Andrade; e De Passagem, de Ricardo Elias; ou no extracampo do espaço filmado (O Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento). Pode ser uma morte, ainda, envolta no insólito, como em A Grande Noitada, de Denoy de Oliveira, ou como condição mítica, existencial e social (O Bandido da Luz Vermelha, de Sganzerla).
A morte pode ser também um estágio superado, como em O Caminho dos Campeões, de Eduardo Barioni, que terá sua primeira exibição pública nesta mostra; ou ainda a morte do próprio cinema como atestado de qualquer coisa, como em A Dama do Cine Shanghai, de Guilherme de Almeida Prado. Na morte aparente, porém, pulsa a vida. Se há a morte de um projeto de moradia, ou uma ausência de projetos, há também resistência em À Margem do Concreto, de Evaldo Mocarzel; assim como em Jogo Subterrâneo, de Roberto Gervitz, existe uma resistência ao fim do romantismo, ainda que, para sobreviver, esse romantismo precise se adaptar às novas experiências com espaços sociais, na qual a individualidade em público se torna somente imagem.
Em A Casa de Alice, de Chico Teixeira, e Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodansky, a vida resiste à família, ou é ameaçada pela mesma, colocando os problemas na esfera íntima dos personagens ao invés de colhê-los fora de casa e introjetá-los na vivência doméstica. Essa fusão entre o fora e o dentro – entre a cidade, o personagem e a casa – é a base também de Nina, de Heitor Dhalia, no qual a morte igualmente ronda a vida de uma jovem confusa entre exterior e interior em sua vivência.
Temos, por fim, um amplo painel de retratos e olhares sobre a capital paulista, seus dramas e as feridas emocionais que causam em seus habitantes e personagens. Convidamos ao público para um mergulho nesse universo onde, quem sabe, poderá encontrar o reflexo de sua própria relação com a cidade.
SERVIÇO
Vivendo e Morrendo em São Paulo
De 02 a 07 de setembro de 2008
Centro Cultural São Paulo
R. Vergueiro, 1000
ENTRADA FRANCA
(exibições em película, exceto onde indicado)
A programação completa pode ser acessada aqui.

4.8.08

Era Uma Vez...

Era Uma Vez..., de Breno Silveira, Brasil, 2008 - Cabine

Sabemos que Era Uma Vez..., novo longa de Breno Silveira, foi concebido antes de Dois Filhos de Francisco, filme que acabou sendo uma das estréias mais bem sucedidas do cinema brasileiro. Embora seja um exercício inútil tentar imaginar como seria o filme se tivesse sido realizado na época em que foi idealizado, o fato é que, da maneira como acabou sendo apresentado ao público, Era Uma Vez... representa uma mudança radical na visão do diretor sobre o país. Se ainda temos aqui a fotografia estetizante a mostrar nossas belezas naturais e a música como artifício fundamental para conduzir a emoção do espectador, Era Uma Vez... aponta para uma percepção muito mais negativa do Brasil.
É sobre esse visão de país que Breno Silveira apresenta em seu novo filme que trato no texto recém-publicado na Cinética.
Leia a crítica do filme em: