17.11.05

Marcas da Violência

A History of Violence, de David Cronenberg, EUA, 2005 - Mostra SP

Depois do ótimo Spider, o diretor canadense David Cronenberg volta com Marcas da Violência à questão da identidade e do passado, temas caros à sua cinematografia.
Entretanto, diferentemente de outros filmes seus como eXistenZ, Videodrome e Scanners, aqui Cronenberg utiliza-se de um estilo de certo modo mainstream, com uma história linear e realista (talvez por não se tratar de roteiro original seu, mas sim da adaptação de uma graphic novel), como meio de discutir as questões de seu interesse.
Embora inicie o filme com um prólogo à Tarantino, é em David Lynch (principalmente o de um Veludo Azul ou Twin Peaks) que Cronenberg parece buscar inspiração ao ambientalizar sua história em uma idílica cidade dos EUA – onde as pessoas se cumprimentam pelo nome nas ruas e que parece saída de um panfleto macartista destacando as benesses do american way-of-life – para, aos poucos, revelar o sórdido por trás da aparente perfeição.
O sórdido no caso responde pelo nome de Tom Stall, um pacato pai de família que, após reagir a um assalto à sua lanchonete e matar dois criminosos, torna-se uma celebridade da noite para o dia e, no processo, passa a ser atormentado por atos que pretensamente cometeu no passado, resgatando as tramas do “homem errado” dos filmes de Hitchcock (em que um cidadão comum é confundido por outra pessoa, o que ocasiona uma série de conseqüências que o tiram de sua rotina e mudam sua vida).
Partindo dessa premissa e brincando com gêneros cinematográficos que vão do western ao noir, Cronenberg trata brilhantemente de questões como a possibilidade do ser humano de alterar sua natureza e a definição da real essência de cada um. De quebra, critica o sadismo de grande parte do público, que busca uma estética da violência nos cinemas (o próprio diretor afirmou que Marcas da Violência é menos um filme sobre a violência do que sobre a maneira como essa violência afeta nossas vidas, o que é perfeitamente ilustrado na ótima cena em que Jack, filho mais velho e pacifista do protagonista, reage de maneira impulsiva e inesperada às provocações dos colegas de escola) e a valorização de um certo “renascimento” pregado pelas religiões fortalecidas por esta era Bush (novamente exemplarmente ilustrada na confissão de Tom Stall à sua esposa Edie no hospital).
Some-se a isso uma trama bem engendrada, uma direção firme e precisa e duas cenas de sexo memoráveis (dignas da obra de quem já filmou cenas como as de Crash – Estranhos Prazeres e com as quais o diretor adiciona complexidade à personagem de Edie, interpretada por Maria Bello, que de outra forma se tornaria uma simples dona de casa vítima dos acontecimentos) e teremos um dos melhores filmes da carreira de Cronenberg e, conseqüentemente, um dos melhores do ano.

3 Comments:

Blogger Fábio Gonçalves said...

Um bom filme, mas não diria que é um dos melhores do ano. O ponto alto da história para mim foi a questão da aceitação familiar (com suas dificuldades), na crença na possibilidade de mudança radical de comportamento, de não determinação do indivíduo. Entretanto, algumas cenas no melhor estilo "Rambo" não nos deixam esquecer a origem do filme. Vale a pena ver, mas não incluiria este na lista dos imprescindíveis.

30/11/05 10:49  
Blogger Leonardo Mecchi said...

Realmente a questão da expectativa pode ter atrapalhado nesse caso, mas acho que o conhecimento da filmografia prévia do cineasta e dos cânones do cinema americano com os quais ele brinca dão um prazer diferenciado neste filme.

30/11/05 11:24  
Anonymous Anônimo said...

dang, mr mortensen is mesmerizing in a history of violence..

14/12/05 07:20  

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