1.9.05

Casa Vazia

Bin-Jip, de Kim Ki-duk, Coréia do Sul, 2004 - HSBC Belas Artes

Há uma regra não escrita no cinema que determina que um filme não deve dizer, mas mostrar. Como estamos no registro primordial da imagem, há de se ter cuidado para que as palavras – sejam em forma de diálogo, sejam nos temíveis voice over – não sejam apenas mais uma camada, redundando o que a imagem já mostra.
Em Casa Vazia, Kim Ki-duk (mesmo diretor do recentemente exibido em telas brasileiras Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera) se propõe a levar esse paradoxo ao extremo, relegando os dois personagens principais do filme ao silêncio absoluto. Eles se conhecem, se apaixonam, se separam e desenvolvem um relacionamento totalmente não-convencional sem trocarem uma única palavra.
Não-convencional é também o estilo de vida de Tae-suk, o jovem protagonista que invade casas vazias durante a ausência de seus moradores, mas apenas para vivenciar por alguns dias o cotidiano daquelas pessoas, deixando as casas em melhor estado do que as encontrou. E é numa dessas invasões que encontra Sun-hwa, uma jovem esposa infeliz e maltratada no casamento, que passará a acompanhá-lo em suas peregrinações pelas ruas de Seul.
No último e mais interessante terço do filme, Kim Ki-duk radicaliza ainda mais sua proposta e abre mão não apenas da palavra, mas da imagem de seu protagonista – que passa a habitar o extra-campo, as margens do enquadramento – levando a narrativa para uma atmosfera onírica, reforçada pelo movimento da câmera, que passa a flutuar pelos ambientes em contraponto aos planos mais formais do início do filme.
Casa Vazia pretende ser um poético estudo sobre a impossibilidade de comunicação nos dias atuais, porém acaba pecando pelo excesso de cacoetes dos “filmes de arte”, pela impostura da proposta e por uma visão simplista e esquematizada de mundo, opondo o bem (os que silenciam, se amam, que vivem de maneira tradicional) e o mal (os que falam, usam da violência, os novos ricos). O próprio diretor se contradiz ao, após optar por uma narrativa quase sem diálogos, apoiar-se numa frase epilogal totalmente dispensável para encerrar o filme.
Ao tentar esvaziar seu cinema dos excessos que tomam de assalto a produção contemporânea (desafio ao qual muitos nomes do cinema asiático tem se mostrado à altura), Kim Ki-duk acabou enchendo seu filme de pretensão e esvaziando-o de interesse.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É mesmo sensacional assistir um filme e não sentir falta de um diálogo.

Chega um momento em que você percebe que eles realmente não estão falando e se toca que o diálogo não é necessário. É como descobrir um novo cinema.
Concordo no que diz respeito à frase final. Ela é dispensável.

30/9/05 14:06  

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