13.10.05

Lila Diz

Lila Dit Ça, de Ziad Doueiri, França, 2004 - Frei Caneca Arteplex

Depois de revolucionar o cinema com a Nouvelle Vague, a França parece estar ao largo dos bons ventos cinematográficos, que andam soprando mais para o oriente e seus cineastas de nomes quase impronunciáveis, como Apichatpong Weerasethakul, Hou Hsiao-Hsien, Wong Kar-Wai, Tsai Ming-Liang, Hong Sang-Soo, entre outros.
Lila Diz, com sua história de uma garota com a libido à flor da pele - a Lila do título – que causa grandes mudanças e conflitos na vida de um rapaz franco-argelino e seu grupo de amigos, é por demais esquematizado, um aglomerado de cenas colocadas em seqüência para fazer progredir artificialmente a história rumo a um final previsível e que tudo explica, apenas reforçando essa sensação em relação ao cinema francês.
Embora tenha trabalhado como assistente de Tarantino em três filmes e tenha sido premiado com seu longa de estréia (Beirute Oeste), o diretor Ziad Doueiri parece ainda não ter desenvolvido completamente sua linguagem. Neste filme, Doueiri depende em excesso da narração - o voice over, por exemplo, é onipresente durante o filme e invariavelmente redundante à imagem apresentada - para passar informações ao espectador, relegando as situações dramáticas a um segundo plano. Só entendemos, por exemplo, que o bairro em que vive é um ambiente opressor e limitador para o desenvolvimento de Chimo, o protagonista da história, porque ele assim o diz em sua narração, mas nunca chegaríamos a essa conclusão através das imagens, uma vez que o diretor não toma o tempo necessário para nos mostrar o cotidiano daquela comunidade, de modo a entendermos e nos identificarmos com os dilemas dos personagens.
Quando tenta trabalhar com a linguagem cinematográfica, Doueiri abusa de clichês. Há uma cena emblemática nesse sentido, quando Chimo e seus amigos invadem uma loja de antiguidades para saqueá-la. Para mostrar que Chimo é uma exceção dentro do meio em que vive, o diretor o coloca devaneando em meio aos livros lá expostos, em contraposição aos amigos que enchem os bolsos de jóias.
Há momentos de algum frescor e beleza, como quando a câmera enamora-se de Lila (interpretada pela belíssima Vahina Giocante), mas é muito pouco para redimir um filme que ficou claramente aquém daquilo a que se propôs.