Abismo do Medo
The Descent, de Neil Marshall, Reino Unido, 2005 - Cabine
Os filmes de terror, por se reportarem diretamente a uma de nossas emoções mais primitivas (o medo), colocam-se como um desafio para a análise crítica a partir do momento que, quando bem realizados, extrapolam a lógica e atuam diretamente no irracional do espectador. Quando não se tem repertório suficiente no gênero (como admito ser meu caso) para discutir como determinado exemplar se relaciona a seus cânones e princípios, ficamos reduzidos às sensações causadas pela obra e como nos relacionamos a elas. Nesse sentido, Abismo do Medo é extremamente bem sucedido no que se propõe, construindo um clima distante dos filmes americanos de massacre ou os terrores orientais sobrenaturais a que estamos habituados no circuito brasileiro.
Abismo do Medo parte de uma premissa relativamente simples: seis amigas se unem numa expedição para explorar cavernas nos EUA e acabam presas em uma delas, onde estranhos acontecimentos começam a vitimá-las uma a uma (expor o enredo mais do que isso seria negar ao leitor o prazer do filme). A partir disso, o diretor britânico Neil Marshall constrói um drama de horror sufocante, que se equilibra eficientemente entre o terror psicológico e o físico (o filme não economiza no gore quando necessário) e que habilmente deixa o espectador no limite da tensão durante toda a projeção.
O filme é econômico na apresentação de suas personagens (reduzindo a psicologia e individualidade das seis amigas ao mínimo necessário para o desenvolvimento da história) e no estabelecimento das relações que iremos acompanhar. Uma vez dentro das cavernas, é aí que suas armas são mostradas. Presas sob a superfície, e precisando se esgueirar por uma rede de túneis cada vez mais estreitos em busca de uma saída, o grupo é submetido a situações extremas, que vão minando a confiança e a sanidade daquelas amigas.
Marshall atua diretamente da percepção do espectador, trabalhando luzes, sombras e, principalmente, ruídos de forma primorosa, estabelecendo um clima de tensão crescente que, ao transformar o escuro da sala de cinema em uma continuação da escuridão da caverna, joga o espectador para dentro daquele ambiente sem que nenhuma resistência seja possível.
Fotografado em um claustrofóbico cinemascope, com uma edição de som e imagem prodigiosa e utilizando com precisão o limiar do enquadramento como espaço para a projeção de nossos temores, Neil Marshall constrói com Abismo do Medo um filme que – se peca em alguns momentos na utilização de algumas sub-tramas desnecessárias e pelo excesso na transformação das pacatas amigas em verdadeiras Ripleys redivivas (além de Alien, o filme faz referências a outros clássicos como Apocalypse Now, Drácula e O Iluminado, entre outros) – consegue deixar o espectador à flor da pele durante toda a sua duração. Se for escolher um único filme de terror para ver em 2006, que seja Abismo do Medo.
5 Comments:
Filmaço! Tomara que apareçam mais filme tão assuatdores quanto esse...
Assisti ele há mais ou menos um ano em divx emprestado por um amigo, nem imaginei que ele ainda seria lançado por aqui no cinema e com tanta divulgação! Adorei o filme, muito assustador, ótima trama, cenário diferente e muito longe dos tipos de filmes de terror americanos tipo road(texas massacre,wolf creek,viagem maldita) e de franquias(premonição,pânico).
Chico,
Pois é, também acho um belo filme. Mas o engraçado é que eu achava que isso seria meio que uma unanimidade, mas tenho recomendado o filme a alguns amigos e as reações não têm sido tão boas quanto eu esperava.
Marcos,
Tava programado inicialmente para o filme ter estreado aqui no Brasil lá em Março. Mas aí a distribuidora decidiu esperar o lançamento nos EUA (que foi há pouco tempo, com boa repercussão) para ver o quanto iriam investir na divulgação. Amanhã teremos os números de bilheteria do primeiro fim de semana, vamos ver como foi a recepção do público.
Teve gente que reclamou no meu blogue tb, Léo. Eu sinceramente achei que faltou humor a essas pessoas pq o filme é ótimo.
Bom Chico, por mais que eu tente discutir filmes para além da questão do gosto pessoal, gosto continua sendo gosto...
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