16.11.07

A Casa de Alice

A Casa de Alice, de Chico Teixeira, Brasil, 2007 - Festival de Berlim

Um dos grandes diferenciais de A Casa de Alice em relação ao atual panorama do cinema brasileiro é o ambiente sobre o qual se debruça: a classe média baixa paulistana. Estamos, entretanto, longe do cinismo e do negativismo programático de um Contra Todos, embora tenhamos aqui também a família desestruturada, a sexualidade à flor da pele, uma certa imoralidade nos relacionamentos. De fato trata-se quase de um anti-Contra Todos, pois A Casa de Alice está colado em seus personagens (em especial na protagonista), acompanhando cada um de seus movimentos não com desdém, mas com carinho e curiosidade. Nesse sentido, o filme se aproxima mais de O Céu de Suely, com sua câmera contemplativa, suas atuações naturalistas, sua forte protagonista feminina.
Alice é o eixo em torno do qual se sustenta a família: sua mãe, o marido e três filhos homens. Todos com segredos a esconder, e só a mãe/sogra/avó (que ironicamente está perdendo a visão) observa a tudo em silêncio. Em suas conversas no salão de beleza onde trabalha como manicure, nas crendices e superstições que compartilha com a mãe, no meio extremamente machista em que convive, na rádio AM ligada o dia inteiro, nas viagens de ônibus para o trabalho, no refresco de uva das refeições: tudo em A Casa de Alice reflete à perfeição o ambiente retratado, e Chico Teixeira sabe utilizar sua câmera com precisão para, através de seus longos planos e cortes secos, desvendar esse universo para o espectador. Com sua estréia em ficção, Chico Teixeira consegue nos entregar uma obra poderosa, que o coloca entre aqueles diretores desta novíssima geração do cinema brasileiro a se acompanhar de perto.