A Noiva Síria
The Syrian Bride, de Eran Riklis, França/Alemanha/Israel,2004 - Cabine
Muitos são os filmes que têm retratado as disputas entre Israel e Palestina, mas A Noiva Síria se diferencia não apenas pela mudança geográfica do conflito (desta vez localizado na fronteira entre Israel e Síria e envolvendo uma comunidade drusa[1]) como também pela atenção e carinho despendidos na construção de suas personagens.
Neste novo filme do israelense Eran Riklis, baseado no roteiro da palestina Suha Arraf, antes dos grandes conflitos geopolíticos, existem os pequenos dramas pessoais. As personagens de Riklis não são meros fantoches para ilustrar a tensão no Oriente Médio, mas possuem vidas e dilemas próprios. Emulando a batalha de seus próprios países, as personagens de A Noiva Síria – em especial as mulheres, foco principal do filme – lutam também elas para lidarem com as barreiras que lhes foram impostas. Assim, Mona, a noiva do título, luta para superar a burocracia kafkiana que a impede de concretizar seu casamento, sua irmã Amal (interpretada por Hiam Abbass, conhecida do público brasileiro por suas atuações em Munique, Free Zone e Paradise Now) esforça-se para vencer o preconceito de seu marido e da sociedade para poder prosseguir com seus estudos enquanto sua filha enfrenta o pai em nome de uma paixão adolescente.
Obviamente a situação socio-política da região não serve apenas como pano de fundo para o enredo, mas entrelaça-se, invade e interfere na vida dessas personagens. Isso se nota desde a primeira seqüência do filme, onde Mona, já com seu vestido de noiva, caminha pelas ruas do bairro repletas de bandeiras negras, luto pela morte do presidente sírio, e se prolongará ao longo do filme, nas diversas dificuldades criadas em torno de seu casamento em função de sua situação peculiar: apesar de serem ambos drusos, a noiva vive nas colinas de Golã, território ocupado por Israel desde 1967, enquanto o noivo mora na Síria, fazendo com que o casamento deva ser realizado em território neutro, na fronteira entre os dois países e sob a supervisão da Cruz Vermelha.
Por vezes, a multiplicidade de histórias paralelas e a complexidade da situação vivida pelas personagens torna o filme um pouco confuso e faz com que algumas histórias não sejam satisfatoriamente desenvolvidas (como no caso do relacionamento entre uma francesa voluntária da Cruz Vermelha e o irmão galanteador da noiva), mas a simpatia que o filme reserva a todas as suas personagens, recusando-se a estigmatizar vilões ou vítimas, acaba por compensar essas deficiências.
Ao final, Riklis aposta na perseverança e coragem individual como uma possível saída para os impasses gerados pelas políticas equivocadas no Oriente Médio. Sem pretensões de ser um retrato definitivo dos impasses da região, A Noiva Síria consegue misturar conflitos pessoais, políticos e culturais sem tornar-se didático ou enfadonho e, ao mesmo tempo, sem deixar de dar o devido peso e importância a uma questão tão complexa.
[1] Os drusos são uma comunidade sem pátria (vivem principalmente no Líbano, Israel, Síria e Jordânia), não são considerados muçulmanos nem cristãos (embora sua religião seja influenciada por ambas) e, devido às perseguições religiosas que já sofreram, costumam dissimular sua própria origem (assumindo a religião dos locais onde vivem e mantendo suas próprias convicções em segredo).
2 Comments:
Parabéns pela crítica, vc escreveu exatamente o que eu senti vendo o filme.
Filme excelente, fugindo dos padrões e estereótipos comuns nesse tipo
de história.
Onde posso downlodear o filme ?
Marcelo Perez
marce161231@hotmail.com
Postar um comentário
<< Home