16.5.06

Cinética

Acaba de entrar no ar a mais nova revista eletrônica de crítica cinematográfica da Internet brasileira: a Cinética. A revista é capitaneada por Cléber Eduardo (crítico com passagem pelas revistas Época e Contracampo, diretor do curta-metragem Almas Passantes), Eduardo Valente (ex-editor da Contracampo, diretor dos curtas Um Sol Alaranjado, Castanho e O Monstro, todos selecionados para diferentes seções do Festival de Cannes) e Felipe Bragança (crítico com atuação de cinco anos na Contracampo, diretor dos curtas Por Dentro de uma Gota d’Água, O Nome Dele (O Clóvis) e Jonas e a Baleia).
O currículo de seus editores já demonstra o principal diferencial dessa empreitada: a estreita relação entre a produção e a reflexão cinematográfica. Para entenderem um pouco melhor os objetivos da revista, segue um trecho do editorial desta primeira edição:
CINÉTICA ambiciona ser um espaço de troca de pensamentos – não sem dúvidas, porque a escrita, essa atividade a qual nos dedicamos, é uma dança com a dúvida. CINÉTICA é nutrida pelo desejo por essa dança, um desejo às vezes até aparentado da certeza, tamanha a convicção nele mesmo, nos estímulos, em nossa atividade e na discussão como ferramenta de crescimento – mas sabendo que, sem a dúvida, a crítica é sepultada no jazigo dos dogmas, onde não se aceita o movimento livre das idéias.
CINÉTICA é um site empenhado em manter um diálogo direto e franco com o audiovisual e seus realizadores. Nossas intervenções abrangerão desde ensaios sobre dilemas estruturais a comentários urgentes sobre filmes, programas de TV, videogames e projetos para internet.
A criação de poros, de um espaço de troca constante entre o esforço crítico e o esforço de realização de imagens, nos parece crucial para a maturidade e a vivacidade do cinema, em especial no universo brasileiro, demarcado por disputas políticas e econômicas que levam as discussões a acontecer fora das obras audiovisuais e não por dentro delas.
Por isso mesmo, não é acaso a situação de críticos-realizadores (ou realizadores-críticos) dos três editores, que vivem na pele o constante e saudável embate dos dilemas dos criadores com os da reflexão sobre as obras criadas. Esperamos que este teor altamente metalinguístico de nossa relação entre criação e reflexão transpire nas páginas virtuais desta revista. Da mesma forma, vários dos componentes de nossa redação já passaram ou ainda passam pela realização audiovisual, nas mais diversas formas.
Fui convidado a fazer parte da redação dessa nova revista e aceitei o desafio com enorme prazer. A partir de hoje, portanto, além de meus textos regulares aqui no Enquadramento e no Cinequanon, vocês poderão encontrar outros textos inéditos na Cinética.
Esta primeira edição já conta com os seguintes textos meus:
  • Tempo de Guerra, de lama e caos – uma nova análise de Veneno da Madrugada, de Ruy Guerra;
  • Imagem sob Suspeita – sobre Caché, de Michael Haneke;
  • Brasília, My Love – sobre o retrato de Brasília feito por dois filmes recentes: Brasília 18%, de Nelson Pereira dos Santos, e A Concepção, de José Eduardo Belmonte;
  • Em Nome do Pai – sobre a representação da figura paterna em alguns filmes contemporâneos: A Vida Marinha com Steve Zissou (Wes Anderson), Flores Partidas (Jim Jarmusch), Estrela Solitária (Wim Wenders), Chaves de Casa (Gianni Amelio), A Criança (irmãos Dardenne) e Reis e Rainha (Arnaud Desplechin);

Vale a pena uma visita demorada ao site, que além de críticas para praticamente todos os filmes nacionais que estrearam este ano, conta com alguns ensaios muito interessantes, como o de Kleber Mendonça Filho sobre as visões do Sertão pelo cinema brasileiro contemporâneo, o de Cléber Eduardo sobre como o Brasil atual é visto pela ótica de cineastas veteranos e o de Felipe Bragança sobre o retrato da periferia desenhado por programas como Central da Periferia e Falcão – Meninos do Tráfico.