9.4.07

Uma Juventude Como Nenhuma Outra

Karov La Bayit, de Vardit Bilu e Dalia Hagar, Israel, 2005 - Cabine

Assim como Sofia Coppola transportou o filme de adolescente para a corte francesa do século XVIII com sua Maria Antonieta, Vardit Bilu e Dalia Hagar transpuseram esse sub-gênero para um local ainda mais inusitado: o exército israelense. Pois é nesse ambiente que encontramos o foco de Uma Juventude Como Nenhuma Outra: um grupo de garotas interessadas em rapazes, cortes de cabelo, compras e que, por um acaso, são também soldadas do governo de Israel.
Apesar de terem sido designadas para patrulhar as ruas de Jerusalém e fichar todos os palestinos que encontrassem pelo caminho, o que vemos são essas garotas passeando, conversando, comendo, paquerando. Não discutem política ou atentados, e encaram seu trabalho não como um serviço à pátria e à segurança do povo israelense, mas apenas como uma obrigação a cumprir e se livrarem. Enfim, contrariando a tradução brasileira do título, o retrato de uma juventude como qualquer outra.
Em sua simplicidade, a câmera de Uma Juventude atinge uma intimidade tal com essas garotas que consegue inserir o espectador em seu cotidiano sem dissolvê-las num despersonalizado corpo de “soldadas israelenses”. Esse apreço pelas personagens e, em especial, pela dupla protagonista – Smadar (a garota rebelde e avessa a ordens) e Mirit (sua colega de patrulha introvertida e caxias) – é o maior acerto do filme, que assim foge do panfletário e dos clichês de tantas outras obras que tratam da questão Israel-Palestina sob uma ótica exclusivamente política.
Não que a questão política não esteja presente no filme (ela se mostra em diversas cenas de atrito e tensão entre as garotas e alguns dos palestinos abordados), mas ela nunca define essas personagens, sendo apenas mais uma peça de um complexo mosaico de relações e definição de identidades. Esta tensão latente acaba, por fim, se impondo às protagonistas através de um atentado do qual são vítimas, mas mesmo aí, ao invés de enveredar para um discurso mais político e “profundo” a partir desse evento traumático, o filme acertadamente retoma o prumo e o ritmo, aprofundando-se cada vez mais no relacionamento entre as duas amigas.
Essa violência da realidade, quando ocorre no filme, está sempre no extra-campo – como no caso do atentado (quando a câmera só chega ao local segundos após o ocorrido) ou no linchamento de um árabe rebelde (cuja imagem a montagem nos nega, mas cujo som em off assombra a bela cena final) –, pois é em suas personagens que repousa sempre o olhar das duas diretoras.
Essa aparente ausência de agenda política do filme, mais do que um sintoma de alienação, é na verdade ela mesma uma postura política: a de que, por mais que o terror e a violência tentem se impor na contemporaneidade, o que realmente importa ainda são os pequenos dilemas e vicissitudes da vida humana. Uma mensagem singela, de um filme idem.