21.12.06

A Promessa

Wu ji, de Chen Kaige, China, 2005 - Mostra SP

Assim como A Dama na Água, A Promessa instaura logo no início da projeção uma narrativa fabular a partir de uma narração em off no estilo “era uma vez...” e animações que evocam uma época em que homens e deuses viviam em harmonia.
Diferentemente do filme de Shyamalan, entretanto, que parte dessa premissa para tratar de questões como a importância da fé e da narração (e da fé na narração) nos dias de hoje, Chen Kaige opta por uma obra auto-centrada, cujo único objetivo parece ser ostentar como um pavão, a cada fotograma, seu cuidado com a cenografia, seus figurinos primorosos e sua fotografia exuberante.
Esteticamente, A Promessa referencia-se a obras como O Tigre e o Dragão, Herói ou O Clã das Adagas Voadoras, mas projeta cada elemento desses filmes à enésima potência, buscando sempre um tom mais imponente, mais épico, mais emocionante. Nessa ânsia pela grandiosidade (e por justificar cada centavo dos 35 milhões de dólares de orçamento, que o tornam o filme mais caro da história do cinema chinês), o filme ultrapassa acintosamente a linha do kitsch, tornando suas batalhas algo próximo a desfiles de escola de samba (tamanha a quantidade de plumas e paetês na farda dos exércitos) e seus combates algo muitas vezes próximo a seriados como Power Rangers (pois lhe falta a graça – presente nos filmes citados – necessária para suspender a descrença do espectador e transformar o impossível em algo crível, ao menos diegeticamente).
Junte-se a isso moralismos simplistas - como o que leva à mensagem final de que “o destino pode ser mudado em nome do amor” - e temos um filme absolutamente estéril e, por que não dizer, extremamente cafona.