2.2.06

O Segredo de Brokeback Mountain

Brokeback Mountain, de Ang Lee, EUA, 2005 - Cabine

Um western gay. Pronto, agora que já foram escritas estas palavras que constarão de todos os textos a respeito de O Segredo de Brokeback Mountain podemos passar ao que realmente importa, uma vez que nada poderia ser mais reducionista e equivocado em relação ao mais recente filme de Ang Lee do que tachá-lo de western gay.
Primeiro pois o filme não se subscreve aos cânones do gênero americano por excelência (exceto ao definir seus dois protagonistas como caubóis) e, principalmente, porque a história de amor entre Jack Twist e Ennis Del Mar retratada em Brokeback Mountain não é uma alegoria a favor dos direitos homossexuais ou contra a homofobia. Ela é pura e simplesmente isso: a história do amor entre esses dois homens específicos, Jack e Ennis, com todas as dificuldades e percalços inerentes a esse relacionamento em particular. Não há referência ao período no qual se passa a história e os conflitos que poderiam surgir, em função desse relacionamento, com a comunidade em que vivem só são tocados en passant e não fazem parte do foco principal do diretor. E é nessa pessoalidade que reside toda a força do filme. Pois ao não tratar seus protagonistas como símbolos de algo maior – em busca de entregar uma “mensagem” ao grande público –, mas ao invés disso representá-los (e respeitá-los) em sua plenitude e particularidade, o filme atinge uma verdade e universalidade que lhe permite quebrar barreiras e preconceitos que poderiam eventualmente existir no espectador.
O conto homônimo de E. Annie Proulx que deu origem ao filme foi publicado pela primeira vez em 1997 na revista The New Yorker. No mesmo ano, Larry McMurtry e Diana Ossana o adaptaram para um roteiro cinematográfico, mas foram necessários sete anos para convencerem os produtores de Hollywood a levarem adiante um filme considerado arriscado. Com um orçamento relativamente baixo para os padrões norte-americanos, Ang Lee e sua equipe filmaram durante um mês no Canadá e o resultado já fez história: lançado inicialmente em apenas 5 salas, o filme atingiu a maior média de público por cópia da história dos EUA, tendo seu circuito expandido semana após semana até atingir mais de 2000 salas, apenas no território norte-americano, no final de Janeiro. A resposta da crítica também foi avassaladora: vencedor do Leão de Ouro em Veneza, eleito como Melhor Filme e Melhor Diretor de 2005 pelas Associações de Críticos de Boston, Dallas, Los Angeles, Nova York e São Francisco, Melhor Diretor pela Associação de Diretores de Hollywood, Melhor Filme pela Associação dos Produtores, quatro prêmios no Globo de Ouro (incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor) e franco favorito ao Oscar deste ano, com oito indicações nas principais categorias, apesar das características notoriamente retrógradas dos votantes da Academia.
Além da grande sensibilidade de Ang Lee ao tratar do tema (já demonstrada anteriormente em filmes como Razão e Sensibilidade e Tempestade de Gelo), o filme deve grande parte de seu sucesso ao excelente trabalho dos dois atores principais (em especial Heath Ledger como Ennis Del Mar, com uma atuação brilhantemente contida e interiorizada, com um quê de Marlon Brando em seus primeiros papéis) e a maravilhosa utilização das locações e cenários. Contrapondo a deslumbrante paisagem da montanha que dá título ao filme, onde os protagonistas se conhecem pela primeira vez no inverno de 1963 e para onde voltam de tempos em tempos ao longo dos mais de 20 anos de relacionamento, aos claustrofóbicos espaços modernos (no caso de Jack) ou medíocres (no caso de Ennis), em que os personagens passam a viver com suas respectivas esposas e filhos, Ang Lee e seu diretor de fotografia, Rodrigo Prieto, constroem uma relação direta entre o espaço habitado e os sentimentos dos personagens (recurso utilizado com maestria na cena em que, logo após entregar-se pela primeira vez ao seu desejo impetuoso, Ennis cavalga uma vez mais pela bela paisagem da região, mas desta vez esmagado sob o peso de um céu carregado de nuvens).
Apesar de não se tratar de uma obra-prima (os personagens secundários são, se não esteriotipados, ao menos pouco profundos, e Lee insiste em colocar um peso excessivo em quase todas as falas e ações de seus personagens, deixando pouco espaço para o filme respirar), O Segredo de Brokeback Mountain conseguiu gerar essa grande comoção entre críticos e público ao resgatar algo que vinha sendo esquecido na atual busca por filmes “modernos” pelo cinema independente ou blockbusters cada vez maiores pela indústria hollywoodiana: a força de uma bela, justa e bem feita narrativa clássica, como aqueles grandes filmes de antigamente, que sempre lamentamos não existirem mais.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Considero um filme honesto, sem apelos~e apologias. Um filme que conta uma história como outra história qualquer - sem as polêmicas esperadas e que, em mãos erradas, poderiam ser oportunistas... Gostei bastante!

7/2/06 16:20  
Blogger Leonardo Mecchi said...

Marcos,

Concordo contigo. Por mais que o filme tenha suas limitações, sem dúvida esta história nas mãos de alguém menos talentoso e/ou sensível seria uma tremenda catástrofe repleta de clichês...

7/2/06 17:00  
Anonymous Anônimo said...

ooi,eu ACHEI esse filme muito legal, pois revela a realidade, adorei a persistência dos dois pra viver o louco amor!!!
Deveria existir mais filmes como esse!

11/6/06 21:24  
Anonymous Anônimo said...

Sinceramente.. Adorei o conteúdo do filme uma belíssima historia de amor.. Concordo com vc's e me apaixonei pelo filme.. Muito sutil e suave atuação de ambos....

4/1/09 22:19  
Blogger Unknown said...

eu gostei do filme achei normal e que esse filme sirva de liçao para os racistas dos gays o filme é otimo

9/1/09 15:33  

Postar um comentário

<< Home