A Condessa de Hong Kong
Um filme escrito e dirigido por Charles Chaplin (que ainda produziu, compôs a trilha original e aparece numa ponta), com Marlon Brando e Sophia Loren nos papéis principais pode parecer uma obra-prima à priori, mas infelizmente não existe uma fórmula tão simples para isso.
Uma informação pode ajudar a entender o sentimento contraditório que A Condessa de Hong Kong suscita: o filme é baseado num roteiro originalmente escrito em 1938. Tendo sido produzido quase 30 anos depois e sendo lançado no mesmo ano em que foram às telas filmes como A Bela da Tarde (de Luis Buñuel), Bonnie & Clyde (de Arthur Penn), A Primeira Noite de um Homem (de Mike Nichols) e Week-end à Francesa (de Jean-Luc Godard), o filme parece estar consciente de pertencer a uma época que foi deixada para trás e já não possui o mesmo vigor de seus tempos áureos.
Marlon Brando interpreta Ogden Mears, um político herdeiro de um império petrolífero em viagem num cruzeiro, e Sophia Loren é Natascha, uma órfã russa criada em Hong Kong que se esconde na cabine de Ogden para fugir à América. A história se desenvolve entre as brigas do casal (que naturalmente acaba se apaixonando) e as gags causadas pela necessidade de esconder a presença da passageira ilegal.
O filme dialoga com as screwball comedies da década de 30, como Levada da Breca, de Howard Hawks, com Cary Grant e Katharine Hepburn, que inclusive foi lançado no mesmo ano em que Chaplin escreveu o roteiro de A Condessa de Hong Kong. Marlon Brando e, em especial, Sophia Loren respondem bem às exigências desse tipo de comédia, mas a imponência natural desses atores causa uma sensação de estranhamento diante das situações a que são expostos.
Não é preciso ler os créditos para saber que se trata de um filme de Charles Chaplin, apesar de ser seu primeiro, e único, filme em cores. Seu estilo, principalmente o das primeiras comédias, é facilmente reconhecível em diversos momentos que rendem uma boa e despretensiosa diversão.
Embora Luzes da Ribalta seja o filme que mais se aproxima do canto do cisne de Chaplin, A Condessa de Hong Kong acabou sendo sua última produção e recebeu duras críticas na época, justificáveis talvez em alguns de seus argumentos, mas não em sua intensidade. Apesar dos bons momentos, o filme nos deixa uma leve tristeza e melancolia, como quem assiste o outono de um espetáculo que, sabemos, não irá se repetir.