
Óbvia talvez, mas não para a Globo Filmes, que concluiu exatamente o oposto: o primeiro longa do grupo teria se afastado da série de TV e, com isso, havia perdido a empatia com o público. Por isso hoje, três anos depois, somos convidados mais uma vez pela publicidade maciça a pagar o ingresso para ver Casseta & Planeta – Seus Problemas Acabaram. Neste segundo longa da série, a trupe de comediantes se aproximou ainda mais da estrutura de seu programa humorístico, resgatando inclusive muitos de seus personagens fixos. Entretanto, ao buscar se aproximar desse formato original do programa semanal, seu grande diferencial – a resposta rápida e ácida aos acontecimentos do meio político ou dos próprios programas da Rede Globo – acabou sendo deixado de lado, pela impossibilidade que a própria estrutura de um longa-metragem impõe à sua transposição para a película. Por mais que se agilize sua produção, o período de gestação de um filme entre o desenvolvimento do roteiro e sua estréia nos cinemas é de vários meses, o que deixaria qualquer piada vinculada ao cotidiano datada até o momento em que chegasse ao espectador.
Com isso, o que vemos ao longo do filme é uma série de esquetes calcadas em piadas simplistas que, se já funcionaram no anarquismo do primeiro período do grupo, hoje, institucionalizado, já não se sustentam por si só. Fica a sensação de estarmos vendo mais do mesmo, porém sem os bons momentos da série de TV. Junte-se a isso uma produção propositadamente grosseira e óbvia e temos o que o crítico Ricardo Calil classificou precisamente como uma “superprodução tosca”.
Se como obra cinematográfica Seus Problemas Acabaram resvala a nulidade, como produto mercadológico o filme apresenta alguns pontos que, se poderiam passar despercebidos num primeiro momento, ao serem analisados com mais atenção deixam transparecer um claro posicionamento da Globo Filmes diante do atual cenário da produção audiovisual brasileira. De todos os alvos escolhidos pelos comediantes para despejarem seu humor cáustico, um em particular se repete algumas vezes ao longo do filme, da cena de abertura aos créditos finais, e, com isso, assemelha-se mais a uma crítica realizada pela própria Globo do que a mais uma avacalhação dos Cassetas. O alvo? O cinema brasileiro contemporâneo e sua atual estrutura de produção.
É sobre como esse novo filme da série Casseta & Planeta ironiza o cinema brasileiro e sobre essa relação contraditória e esquizofrênica entre a Globo Filmes e o atual sistema de financiamento da produção audiovisual no Brasil de que trato no texto recém-publicado na Cinética.
Leia a análise do filme em:
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