
O fato é que, se temos a sensação de excelência do cinema argentino, isso se deve porque esse cinema a que temos acesso é apenas um pequeníssimo recorte da enorme produção daquele país. O que chega ao Brasil, na maioria dos casos, é o que de melhor se produziu em nosso vizinho. O argentino que só tivesse acesso a filmes como O Invasor, Lavoura Arcaica, Madame Satã e Cinema, Aspirinas e Urubus, por exemplo, certamente afirmaria o alto nível dos filmes brasileiros, em detrimento da pobreza de sua produção média.
Para cada filme de Lucrecia Martel, Pablo Trapero ou Lisandro Alonso, a Argentina produz – assim como o Brasil – uma infinidade de filmes medianos ou até mesmo medíocres, comédias de costume que visam o grande público e que em pouco ou nada contribuem para a cinematografia argentina.
Herencia, longa de estréia da diretora Paula Hernandez, é um desses filmes que, de tempos em tempos, irrompe por estas paragens, derrubando a tese comum e demonstrando que os argentinos também sofrem de muitos dos males de nosso cinema. Trata-se de uma típica comédia dramática onde dois estrangeiros (ele, um jovem recém-chegado da Alemanha em busca de uma garota pela qual se apaixonou há dois anos; ela, uma sexagenária italiana que veio para a Argentina durante a 2a Guerra Mundial e por lá se estabeleceu) se encontram por acaso e acabam construindo uma amizade – aos trancos e barrancos – com a qual irão aprender e amadurecer. Uma história que já foi contada uma infinidade de vezes, o que leva o espectador a uma contínua sensação de déjà vu ao longo da projeção, embora isso não seja algo que desabone o filme a priori. O problema, no caso do filme de Hernandez, é que essa história é narrada através de uma infinidade de clichês e lugares comuns, tanto no roteiro quanto na linguagem utilizada.
Como bem apontou o crítico Eduardo Valente, Herencia pertence à mesma linhagem de O Filho da Noiva – um melodrama com pitadas de comédia, apelo popular e linguagem clássica – mas em tudo perde na comparação para o filme de Campanella. O enredo previsível, os momentos cômicos mal construídos (concentrados em sua maior parte no personagem alemão), a trilha sonora completamente equivocada, a fotografia simplória, tudo contribui para afastar o espectador do drama daqueles personagens.
Há, na verdade, uma bela história soterrada sob o filme de Hernandez, que é a história de Olinda, a imigrante italiana que precisa resolver a decadência de seu restaurante e a nostalgia de sua terra natal. Há em alguns momentos de Olinda – não em todos, mas alguns – uma verdade, uma vitalidade, uma crença por parte de Hernandez naquele personagem, que não existe em nenhum outro do filme. Ajuda a explicar esses lampejos de vida e interesse da personagem o fato de que Olinda, segundo a própria diretora, foi inspirada em sua avó, logo após seu falecimento. Tal proximidade de um fato trágico, vinculado a uma pessoa tão próxima, pode ter ajudado a diretora a se envolver e superar o esquematismo com o qual construiu todo o restante do filme.
O fato é que, infelizmente, a inexperiência de Paula Hernandez pesou, e muito, nessa sua estréia, fazendo com que mesmo uma despretensiosa comédia terminasse pesada, sem ritmo e desinteressante. Diferentemente da sabedoria popular, os argentinos também erram em seu cinema.
Dos poucos que vi gostei muito: os da Martel - é claro -, Histórias Mínimas (um belo filme) e Do Outro Lado da Lei - num curti filmes como O Filho da Noiva, nem tampouco Nove Rainhas... Mudando de assunto: sabes como eu destravo o carajo dos meus aparelhos de DVD (Sony e Philips) para poder ver um filme do Pedro Costa que recebi de Portugal? Dizem que tem um lance que isso é possível! Abs.
ResponderExcluirMarcos,
ResponderExcluirGosto do "Histórias Mínimas", mas o filme seguinte do Sorin ("Cachorro") é bem fraquinho.
"O Filho da Noiva" e "Nove Rainhas" acho que funcionam muito bem no que se propõem (melodrama no caso do primeiro, filme policial/noir no segundo).
Quanto ao DVD, me mande um email (o link tá no alto da página) que conversamos sobre isso. Qual filme do Pedro Costa você tem aí?
O link para seu email não abre - talvez seja problema no meu pc. Então, fica o meu email (aurelio.felipe@uol.com.br) para trocarmos informações sobre como destravo os carajos (risos) de meus aparelhos de DVD. Isso está me cheirando a quebra de normas internacionais e conspiração contra as multinacionais (hehehe). Ah, o filme do Pedro Costa que tenho aqui é o documentário Onde Jaz O Teu Sorriso? sobre o casal Straub - justamente porque meus aparelhos não aceitam discos da Região 2, eu ainda não o vi.
ResponderExcluirJá te mandei um email. Quanto aos serviços de consultoria, nada que uma cópia desse DVD não pague, hehehe...
ResponderExcluirOk, já recebi teu email e quando chegar em casa eu passo os dados dos aparelhos - Sony e Philips. Promessa é dívida! hehe
ResponderExcluirolá! vi este filme qdo estreiou no cinema e me marcou mto. lembro da cena dela sentada na raiz de uma árvore o que marca bem as raízes dela, em onde estavam fincadas? itália ou argentina! descobri este texto pq acabo de citá-lo no meu blog falando de identidade. acho que ilustra absolutamente! abs, Carolina.
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