
Em Casa Vazia, Kim Ki-duk (mesmo diretor do recentemente exibido em telas brasileiras Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera) se propõe a levar esse paradoxo ao extremo, relegando os dois personagens principais do filme ao silêncio absoluto. Eles se conhecem, se apaixonam, se separam e desenvolvem um relacionamento totalmente não-convencional sem trocarem uma única palavra.
Não-convencional é também o estilo de vida de Tae-suk, o jovem protagonista que invade casas vazias durante a ausência de seus moradores, mas apenas para vivenciar por alguns dias o cotidiano daquelas pessoas, deixando as casas em melhor estado do que as encontrou. E é numa dessas invasões que encontra Sun-hwa, uma jovem esposa infeliz e maltratada no casamento, que passará a acompanhá-lo em suas peregrinações pelas ruas de Seul.
No último e mais interessante terço do filme, Kim Ki-duk radicaliza ainda mais sua proposta e abre mão não apenas da palavra, mas da imagem de seu protagonista – que passa a habitar o extra-campo, as margens do enquadramento – levando a narrativa para uma atmosfera onírica, reforçada pelo movimento da câmera, que passa a flutuar pelos ambientes em contraponto aos planos mais formais do início do filme.
Casa Vazia pretende ser um poético estudo sobre a impossibilidade de comunicação nos dias atuais, porém acaba pecando pelo excesso de cacoetes dos “filmes de arte”, pela impostura da proposta e por uma visão simplista e esquematizada de mundo, opondo o bem (os que silenciam, se amam, que vivem de maneira tradicional) e o mal (os que falam, usam da violência, os novos ricos). O próprio diretor se contradiz ao, após optar por uma narrativa quase sem diálogos, apoiar-se numa frase epilogal totalmente dispensável para encerrar o filme.
Ao tentar esvaziar seu cinema dos excessos que tomam de assalto a produção contemporânea (desafio ao qual muitos nomes do cinema asiático tem se mostrado à altura), Kim Ki-duk acabou enchendo seu filme de pretensão e esvaziando-o de interesse.
É mesmo sensacional assistir um filme e não sentir falta de um diálogo.
ResponderExcluirChega um momento em que você percebe que eles realmente não estão falando e se toca que o diálogo não é necessário. É como descobrir um novo cinema.
Concordo no que diz respeito à frase final. Ela é dispensável.